quarta-feira, 1 de abril de 2009

SAUDADE




A Minha Saudade Tem o Mar Aprisionado

A minha saudade tem o mar aprisionado
na sua teia de datas e lugares.
É uma matéria vibrátil e nostálgica
que não consigo tocar sem receio,
porque queima os dedos,
porque fere os lábios,
porque dilacera os olhos.
E não me venham dizer que é inocente,
passiva e benigna porque não posso acreditar.
A minha saudade tem mulheres
agarradas ao pescoço dos que partem,
crianças a brincarem nos passeios,
amantes ocultando-se nas sebes,
soldados execrando guerras.
Pode ser uma casa ou uma rede
das que não prendem pássaros nem peixes,
das que têm malhas largas
para deixar passar o vento e a pressa
das ondas no corpo da areia.
Seria hipócrita se dissesse
que esta saudade não me vem à boca
com o sabor a fogo das coisas incumpridas.
Imagino-a distante e extinta, e contudo
cresce em mim como um distúrbio da paixão.

José Jorge Letria, in "A Metade Iluminada e Outros Poemas"
(Foto-Photoshop de Carla Freire)

1 comentário:

aparaibatem disse...

o que dizer?
Sausadee...do que vivi...do que deixei de viver...do que fui...do que não pude ser... saudade dos amigos que beijei e dos que não pude beijar...do beijo furtivo e do beijo escrajado...da gargalhada contida e do riso aberto...saudade da paixão que eu via nos teus olhos e que resplandecia no meu olhar...saudade de tu...da tua mão...do teu abraço...do seu corpo molhado...SAUDADE

Namastê