terça-feira, 28 de abril de 2009

TEMPORADA


Temporada


Um pássaro sem rosto, um pelicano,
caminhava sobre o mar, esfregando
seu frágil corpo de ave. A sua carne.

Esfregando seu corpo, por vaidade.
E não o viam, ou o sabiam como,
ou de onde seria o cair de sua tarde.

Caminhava sobre o mar, sem rosto.
Arrancando carne do peito, posto
fosse esse o seu dever. Seu sangue.

Arrancando carne de seu peito,
(não sendo mais que obrigação
ou algo que qualquer pelicano
teria feito) voltava de seu mar.

/ Para sempre a sua função /

Nunca nada mais que outro
não teria feito, não. Sem rosto
caminhava sobre a margem.

/ Nunca nenhum horizonte,
bem que o mar fosse todos /

E para além de nenhum rosto,
No vermelho da tarde, do sangue, da carne,
Arrancara alguma maquiagem.

/ Logo lavada pelo mar, sua função. Por sua
margem. Por sua própria impossibilidade.

Eduardo Lacerda

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