segunda-feira, 30 de março de 2009

AMBIENTE


Países em extinção
Com o nível do mar cada vez mais alto, ilhas paradisíacas do Pacífico Sul estão desaparecendo. E os moradores estão se transformando nos primeiros refugiados do aquecimento global
Texto Giovana Vitola

As ilhas paradisíacas do Pacífico Sul estão sumindo. Em poucos anos, algumas delas devem ficar desertas: cansados das freqüentes inundações, os moradores estão indo embora. Entre as 12 nações-arquipélagos da região, duas estão em alerta máximo. Com a elevação do nível do mar, os países de Kiribati e Tuvalu podem ser engolidos pelo mar, saindo do mapa de vez até o fim deste século. Hoje, quem mora nessas ilhas conhece paisagens bem diferentes das fotos turísticas. No começo do ano, marés altas provocam inundações a toda hora. A água invade as casas e causa erosões. Com as raízes atacadas dia a dia pelas ondas, as palmeiras estão caindo. Quando a maré sobe, poças d’água surgem repentinamente, espalhando o lixo pelas ruas de areia. Em algumas regiões, já é possível atingir água cavando apenas 1 metro de profundidade. O governo dos dois países já preparou um programa de emergência para arranjar alojamento para seus 115 mil moradores, os primeiros refugiados do aquecimento global.
O fenômeno é uma das provas dramáticas do aquecimento da Terra. Com a temperatura do planeta 0,7 oC maior no último século, as calotas polares derretem e o nível do mar aumenta. No Alasca, as ruas feitas de gelo há séculos estão esburacando e derretendo. Na Antártida, placas de gelo do tamanho de cidades se descolam com freqüência cada vez maior. O efeito é ainda mais incômodo para quem vive em lugares como Tuvalu, o 4o menor país do mundo, onde o ponto culminante tem 5 metros de altura e a largura das ilhas não passa de 500 metros. “Com todos os fatores que temos vivenciado, Tuvalu irá lentamente erodir nos próximos 40 ou 50 anos”, afirma Tauala Katea, cientista do centro meteorológico de Tuvalu. A ironia é que pequenas nações como essa contribuem pouquíssimo com a poluição ou com o aquecimento do planeta.
Em Tuvalu e Kiribati, os moradores importam 80% do que comem. A economia de Tuvalu depende da remessa de dinheiro dos tuvaluanos que moram no exterior e da venda do domínio de internet “.tv”. Em 1998, o país recebeu de emissoras de televisão americanas US$ 50 milhões por poderem usar o “.tv” por 12 anos no endereço da internet. Até o século 19, Tuvalu foi colônia espanhola, com milhares de habitantes levados ao Peru e à Bolívia como escravos. Depois, os dois países se tornaram colônias britânicas – Tuvalu faz parte da monarquia britânica até hoje. Durante as batalhas do Pacífico na 2ª Guerra Mundial, Kiribati foi invadido pelo Japão. Depois, abrigou testes nuclea res americanos. Aconteceram ali testes de bombas de hidrogênio que assustaram o mundo na década de 1950 por serem 5 mil vezes mais potentes que a bomba lançada em Hiroshima em 1945. Hoje, os dois países abrigam pescadores e artesãos. As mulheres andam na rua com suas blusas e saias largas e coloridas, e até as autoridades vestem-se à vontade, como o presidente de Kiribati, que concede entrevistas de camiseta simples e chinelo. As crianças passam o dia nos coqueiros e na praia. No entanto, todos percebem o que está acontecendo com o seu paraíso particular.
Por isso, um sentimento de melancolia toma a comunidade tuvaluana na Nova Zelândia. Fala Haulangi, uma líder dos exilados de Tuvalu em Auckland, resolveu montar um programa de rádio semanal sobre a cultura tuvaluana. Sua principal preocupação é os moradores perderem a identidade com o país. “O que eu vou ser se meu país desaparecer? Sou de Tuvalu, um país que não existe mais”, diz ela. Leilani Gosschalk, uma tuvaluana que também vive na Austrália, passou a infância na ilha de Tepuka Savilivili, que hoje não existe mais. “Acho inevitável que nossa cultura e nossa terra acabem”, diz.

Fonte:Revista Super Interessante
Janeiro 2007

Sem comentários:

Namastê