quinta-feira, 28 de maio de 2009

Vício da Internet


Natalia Sánchez entrevistou José Miguel Gaona Cartolano, médico-psiquiatra forense.

- Que mitos existem em redor da rede?
- Um deles é o de ser aditiva. Muitos especialistas em saúde mental consideram que tal não existe, porque é algo que não foi demonstrado.

A Internet é um rio de comunicação que permite ler um jornal da Austrália, conversar ou enviar um email.

Dizer de alguém que está preso à Internet é tão absurdo como dizer que alguém que lê muito está preso à celulose. Outro mito é a suposta excessiva periculosidade para as crianças.

Recentemente uma associação de prestígio revelou que em Espanha só 5 por cento dos menores sofreu algum tipo de assédio.


É absurdo falar de vício da Internet. É como dizer de alguém que lê muito, que é viciado em celulose.

- Quando se poderia falar de adição?
- Actualmente há uma faixa da população que passa mais horas ligada à Internet que a ver televisão. Estamos a assistir a um fenómeno novo.

A televisão já pode ver-se através da rede e realmente não sabemos se se está a conversar, a ver televisão ou a enviar emails.

O Governo chinês assinalou, em certas directrizes, que a partir de 5-6 horas diárias já existia adição, mas realmente, quando muito, pode tratar-se de um tempo mal empregado ou de uma personalidade compulsiva.

Além do mais, é preciso acrescentar que nenhum manual de psiquiatria cataloga a adição à Internet.

- Quais são os riscos que implica a Internet?
- O construir uma realidade que se transmita à população. Quase todos consideramos que o que é visto é verdade e qualquer um pode criar uma página web que passa a ser referência.

Além disso, quer-se fazer crer que os riscos existentes são muitos, porque uma sociedade atemorizada é muitos mais manipulável e controlável.

- O que nos leva a pensar que os emails que nos enviam são, muitos deles, mentiras?
- Os humanos não perderam o seu lado mágico e damos-lhe crédito porque tem uma grande parte de verdade.

Assim, quando se divulga pela rede, através de emails, que uma empresa vai instalar uma mina num glaciar, surge uma preocupação pelo ecossistema, entre outros factores.

Os boatos vivem de 80 por cento de verdade e 20 por cento de mentira. Não há pior mentira que a que tem uma grande componente de verdade, porque é muito crível e ainda mais se a recebemos de alguém que está próxima de nós.

Também convém não esquecer que muitos rumores servem para terceiras pessoas para tirar disso proveito, recolhendo dados, já que solicitam dados pessoais.

- Porque divulgamos, reenviando, esses correios?
- Pela facilidade com que se carrega no botão.

- Como especialista em menores, que recomendações faria aos pais para o uso da net por parte dos filhos?
- Se os filhos são menores, recomenda-se que o computador esteja num lugar à vista de todos, que vigiem os filhos, lhes estabeleçam limites e tenham controlo sobre a ligação.

Apesar de tudo, os estudos mais recentes mostram que os pais realizam uma vigilância razoável.

- Autores de massacres em diferentes pontos do globo deixam mensagens na rede a anunciar a sua acção. Porque o fazem?
- O vídeo, tal como as fotos, de uma actividade ilícita são uma espécie de troféus em mostruário. Trata-se de um comportamento muito próprio de adolescentes que fazem participantes os outros nos seus triunfos.

Em muitas ocasiões culpou-se a Internet dos massacres na Finlândia ou nos Estados Unidos, mas não devemos de esquecer que a Internet é só um meio de comunicação.

- As comunidades virtuais, como o "Facebook" e o "Tweeter", estão agora mesmo em plena expansão.
- Trata-se de um fenómeno muito interessante porque se implicam umas comunidades com as outras; está-se em contacto com o amigo de um amigo e dada a imbricação que às vezes existe, facilita-se a informação que o utilizador inicialmente não queria que se conhecesse.

Além disso, estão a publicar-se muitas informações pessoais, sobretudo fotografias, às vezes comprometedoras. Por isso acho que devia existir uma espécie de auto-regulação, porque uma mensagem depois de publicada na Internet fica publicada para sempre com todas as consequências que comporta.

- Mudará o nosso comportamento na Internet...
- Daqui a uns anos a rede vai ser muito diferente. Não vai haver um ecrã nem um teclado e vai fazer parte das nossas vidas absolutamente em tudo.

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