sexta-feira, 22 de maio de 2009

POESIA


IMPLACÁVEL

E te dei o cheiro
De todas minhas dálias e nardos em flor.
E te dei o tesouro
Das fundas minas de meus sonhos de ouro.
E te dei mel,
Do favo moreno que finge minha pele.
E tudo te dei!
E como uma fonte generosa e viva para tua alma fui.
E tu, deus de pedra
Entre cujas mãos nem a hera cresce;
E tu deus de ferro
Ante cujas plantas velei como um cachorro,
Desdenhaste o ouro, o mel e o cheiro.
E agora retornas, mendigo de amor!
A buscar as dálias, a implorar o ouro,
A pedir de novo todo aquele tesouro!
Ouve, mendigo:
Agora que tu queres é que eu não quero,
Se o roseiral floresce,
É já para outro que em casulo cresce.
Vá embora, deus de pedra,
Sem fontes, sem dálias, sem mel, sem hera
Igual que uma estátua,
A quem Deus baixara do pedestal, por vaidade.
Vá embora, deus de ferro!
Que junto a outras plantas se há estendido o cachorro!

JUANA DE IBARBOUROU
foto de CARLA FREIRE

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