quarta-feira, 2 de junho de 2010

Literatura de Cordel

NORDESTE


( do Livro "Poemas Nordeste")

"Meu Nordeste feiticeiro,

Morenão de bronze o peito,

Genuíno brasileiro,

Eu me sinto satisfeito

Em ser filho de um teu filho

E no chão por onde trilho,

Que venero com respeito.



Meu Nordeste das moagens

Nos engenhos de madeira,

Dos açudes, das barragens,

Da lavoura rotineira,

das desmanchas de mandioca,

Do foguete-de-taboca

Irmão gêmeo da ronqueira.



Meu Nordeste onde os velórios

São rezados no sertão,

E improvisam-se os casórios

(Sem juiz, sem capelão),

Os padrinhos e os compadres,

As madrinhas e as comadres,

Na fogueira de São João.



Meu Nordeste do bornal,

Rifle, bala e cartucheira,

Da "lombada" e do punhal,

da "garruncha" e da peixeira,

Do cacete e do facão,

Com que um cabra valentão

Desmantela festa e feira.



Meu Nordeste em rede armada

(De algodão ou de tucum),

Aguardando a maxixada

Com quiabo e jerimum,

Mel, canjica e milho assado,

Feijão verde e arroz torrado,

Na semana de jejum.



Meu Nordeste a boi de carro...

Carro-de-boi do Nordeste,

Tosco, humilde, simples charro,

Submisso e a nada investe,

Que, arrastando estrada afora,

Range, grita, canta e chora

Ajaujado à canga agreste. (....)

Hermes Vieira/Teresina/PI/Brasil

Foto de Carla Freire/Paraíba/Brasil

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